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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Presidente da comunidade em Portugal fala em racismo

Fonte © Logótipo Destak

FRANÇA

Presidente da comunidade em Portugal fala em racismo


O presidente da federação das associações ciganas em Portugal considerou hoje que a expulsão de ciganos em França é uma atitude “lamentável” e “racista”, que pode dar origem a uma “onda anti-cigana” em todo o mundo.


“É lamentável o que está a acontecer, e é triste porque se trata de uma perseguição a seres humanos. É mais lamentável porque Sarkozy [Nicolas Sarkozy, Presidente francês] não está a verificar caso a caso, está a fazer uma inclusão total dos ciganos em França, está a considerá-los a todos criminosos e indesejáveis, está a ter uma atitude racista e isso é bastante triste”, afirmou à Lusa António Pinto Nunes, presidente da Fecalp – Federação Calhim (cigana) Portuguesa.

França iniciou hoje o processo de repatriação de ciganos em situação ilegal no país, uma medida anunciada em julho por Sarkozy, que está a gerar polémica e uma onda de acusações de xenofobia contra o Governo de Paris.

“Creio que estes ciganos estão lá há mais anos e a sua arvore genealógica é mais fácil de localizar do que a de Sarkozy”, afirmou António Nunes, numa referência às origens húngaras do Presidente de França e ao exílio a que o seu pai foi forçado no passado.

Além de considerar que a “política francesa não é amigável para os ciganos”, cuja comunidade vive no país “desde 1418”, António Nunes receia que esta possa dar origem ao recrudescimento de um movimento hostil para com as pessoas de etnia cigana em todo o mundo.

“Sou de etnia cigana, conheço os problemas que se passam em todo o mundo sobre os ciganos, e dá muito medo, porque faz-nos lembrar as prisões das SS, quando prendiam a grande massa de ciganos e depois os eliminavam”, afirmou.

Salientando que “nem todos os ciganos são criminosos e nem todos se medem pela mesma bitola com que Sarkozy os está a equiparar para os expulsar”, o também presidente da associação cristã de apoio à juventude cigana considerou que, quando a situação de um país “está degradada, há uma tendência generalizada para virar os holofotes para os mais deprimidos”.

António Nunes receia, por isso, que este seja o primeiro passo para medidas semelhantes noutros países.
“Pode haver uma onda anti-cigana, porque muita gente já não gosta dos ciganos e aproveitam estas situações e estas notícias degradantes que nada têm de bom, para nos poderem acusar e perseguir”, afirmou.
Numa referência ao recente caso vivido em Beja por uma comunidade cigana que se viu isolada por um muro de dois metros de altura, António Nunes considerou que ainda assim “o pior muro é o invisível, que se constrói na mente” e que já deveria ter sido derrubado, para acabar com certas políticas e “ideias erradas sobre ciganos”.

António Pinto Nunes defendeu que o presidente da autarquia devesse mandar retirar a lixeira que existe perto do bairro, destruir o muro e “dar um pouco mais de dignidade ao povo, porque se não forem as entidades superiores a fazer isso, a sociedade que os rodeia não vai fazer nada”.
“É um compromisso que o presidente da Câmara de Beja deveria assumir e, depois de tirar o muro, apresentar um pedido de desculpas tanto àquela comunidade, como ao mundo”.