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domingo, 8 de agosto de 2010

Peça Cigana - Os premiados Ana Teixeira e Stephan Brodt

Fonte







PERFIL

A disciplina da paixão

Os premiados Ana Teixeira
e Stephan Brodt estréiam
peça cigana
Debora Ghivelder 

Ana e Stephan, na sede da companhia: trabalho diário e muita pesquisa



A diretora paulista Ana Teixeira e o ator francês Stephan Brodt conheceram-se na parisiense Escola de Etienne Decroux, em 1989. Casaram-se e da união nasceram Joana, 6 anos, e a Amok, companhia teatral da dupla, no oitavo ano de existência. Desde o berço, o grupo ostenta trajetória de êxitos. O primeiro espetáculo, Cartas de Rodez, calcado na correspondência trocada entre o dramaturgo e então interno de um hospício Antonin Artaud e seu médico, doutor Fredière, foi acolhido com os prêmios Shell (direção e ator) e Mambembe (espetáculo) de 1998. O segundo, Carrasco, foi eleito o melhor espetáculo de 2001 pelo júri do Prêmio Governo do Estado do Rio de Janeiro. O terceiro, Macbeth, de 2004, colecionou indicações e elogios superlativos. Após uma gestação de dois anos, Ana e Stephan estréiam na quinta-feira (6), no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil, Savina, uma história cigana de amor e morte nos moldes de Romeu e Julieta (veja mais informações). Apesar da trama de desfecho trágico, a diretora Ana Teixeira garante que entra em fase mais luzente. "Encerrei com Macbeth o ciclo de sombras da companhia", diz ela.

Quem já viu os espetáculos da Amok – nome retirado de um livro do judeu-austríaco Stefan Zweig que quer dizer febre tropical psicológica – sabe do cuidado que cerca o trabalho do grupo. Eles têm devoção que beira o sacerdócio e encaram o fazer teatral com dedicação de artesãos. "Eles têm extremo cuidado com tudo o que fazem e trabalham com muita paixão e disciplina", opina a crítica de teatro Bárbara Heliodora. Com Savina não é diferente. A história da peça é construída com base na obra do escritor cigano Mateo Maximoff, famoso na Europa e pouco conhecido por aqui. Nos últimos dois anos, a Amok mergulhou em uma pesquisa minuciosa, que incluiu até uma viagem à Índia. Na sede da Rua das Palmeiras, em Botafogo – adquirida com o prêmio de 100.000 reais ganho por O Carrasco –, o casal e os sete atores do elenco estudaram as origens ciganas, seus diferentes ramos, costumes e o idioma romani. O trabalho era diário e com hora marcada, das 8 às 13 horas. É esse trabalho esmerado que conquista gente como o ator Sérgio Britto. "Acompanho a Ana e o Stephan desde sempre. Vi até o Dibuk, que eles encenaram com alunos da Cal. O trabalho deles é único no Rio", diz.

Ana Limp
Cena de Savina: universo cigano construído com ricos detalhes

Savina conta a história de um casal prometido pelos pais em casamento antes mesmo do nascimento. A promessa, entretanto, não é honrada, e a história termina em sangue. "Nada é mais importante para os ciganos do que a palavra dada", explica Ana, que na peça abusa do preto e do vermelho em figurinos ricos e detalhistas. Moedas douradas, correntes, chapéus e barbas negras compõem o visual dos membros da tribo cigana. O cenário tem panos comprados de ciganos na Índia após dura negociação. "Foi uma loucura. Eles são excelentes negociantes e nos vêem como gadjos, não-ciganos. Não facilitam nada no preço", conta Ana, que pechinchou muito numa loja empoeirada para voltar com os objetos que classifica como obras de arte. Tudo para criar o clima gitano em que o jogo de luz e sombra lembra telas de Vermeer. Para que o público possa usufruir essa atmosfera, a dupla resolveu virar de ponta-cabeça o teatro: prolongou o palco sobre a platéia e construiu arquibancadas. Uma garantia de proximidade da audiência com os ciganos, talhados com acurado trabalho corporal. Eles têm gestos e andar largos e ostentam um jeito espaçoso de ser, expresso em cada movimento. Sente-se a influência da escola do Théâtre du Soleil e da cartilha Etienne Decroux, autor de uma gramática corporal para atores. "Eu sempre achei que Ana daria uma excelente coreógrafa ou diretora. Ela é precisa e, ao mesmo tempo, sabe dosar", diz Angel Vianna, mestra da diretora nos anos que antecederam a ida à França. "O trabalho dela me emociona", diz Angel. Essa é a intenção.

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