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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Esma Redzepova

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ESMA REDZEPOVA
Há meio século a dar voz à cultura cigana
por HELENA TECEDEIRO
Começou a carreira por acaso, ao vencer um concurso radiofónico aos 14 anos. Hoje, prestes a fazer 67, a diva gosta de defender o cosmopolitismo, o pacifismo e a liberdade do seu povo.

Na antiga Jugoslávia, há anos que milhares de pessoas cantam e dançam ao som de Chaje Shukarije. Mas o maior sucesso de Esma Redzepova, cujo título se traduz por "Bela Rapariga", ganhou dimensão mundial quando Sasha Baron Cohen o escolheu para a banda sonora do seu polémico filme Borat. Hoje, a Rainha dos Ciganos, como é conhecida esta mulher de físico imponente que amanhã faz 67 anos, continua a dar concertos. O último foi em Paris, a 31 de Julho, em plena polémica sobre a expulsão dos habitantes de acampamentos ilegais de romas (os ciganos do Centro e Leste da Europa). E numa entrevista prévia ao Le Monde, Redzepova fez questão de sublinhar a tradição de "cosmopolitismo, pacifismo e liberdade" do seu povo.

Nascida numa família pobre de Skopje, na actual Macedónia, Redzepova tem uma carreira com mais de meio século. A diva, de modos exuberantes e voz vibrante, começou a actuar em criança. "Herdei tudo do meu pai. Foi ele que fez nascer em mim esta paixão pelo canto", explicou a cantora ao diário francês. Neta de uma judia iraquiana, filha de uma cigana muçulmana e de um católico, cedo Redzepova aprendeu a lidar com a diversidade. Porteiro, cantor, baterista, encerador de sapatos, o pai da cantora foi o homem dos sete ofícios para criar os seis filhos e dar--lhes uma boa educação.

Mas, se o amor pelo canto foi hereditário, Redzepova deve à sorte a sua carreira. Aos 14 anos, o director da sua escola inscreveu-a num concurso de canto na rádio. E venceu. Nove milhões de dinares, o que na altura equivalia a três vezes o salário da mãe, empregada de limpeza. Mas a reacção da jovem não foi só de felicidade. Assustada com a opinião dos pais, Redzepova escondeu o dinheiro na roupa interior. Um subterfúgio logo descoberto pela mãe, quando foi tomar banho. E, quando o pai ficou a saber, teve de lhe prometer que, se se tornasse cantora, "nunca actuaria em restaurantes ou bares", como recordou em Abril à rádio americana NPR.

Nos anos 50, o destino dos músicos ciganos passava muitas vezes por cantar em casamentos. Mas não Redzepova. Pouco depois de vencer o primeiro concurso, a sua voz fascinou de tal modo o produtor Stevo Teodosievski que este a transformou na primeira estrela da TV na Jugoslávia. E numa das preferidas do marechal Tito, que governou o país durante quase 40 anos, até à sua morte, em 1980.

Casada com Teodosievski desde 1968, os dois tornaram-se no expoente da música cigana. A dupla só se desfez com a morte do produtor, em 1997. Impossibilitados de terem filhos biológicos, Stevo e Esma foram adoptando rapazes carenciados. Ao longo dos anos, foram 47 os jovens que recolheram, alguns dos quais são músicos e ainda actuam com a mãe. No seu site oficial, a diva explica porque apenas adoptou rapazes: "As crianças vieram para nossa casa com 13 anos, em plena puberdade. Stevo e eu percebemos que seria procurar confusão juntar rapazes e raparigas."

Reconhecida internacionalmente pela sua vertente humanitária, Redzepova nunca esquece a sua terra natal. E quando confrontada com a alegada discriminação de que os ciganos estão a ser alvo em França, respondeu ao Le Monde que a Macedónia "é o único país onde os roma são reconhecidos". Lá, explicou, têm acesso à educação, à cultura e até aos mais altos cargos políticos (há desde presidentes de câmara a deputados ciganos). Um motivo de orgulho para esta mulher a quem a idade não assusta. Até porque, como a própria disse à NPR, tem dois segredos para cuidar das suas cordas vocais: evitar bebidas geladas e não voltar a envolver-se com um homem depois da morte do marido.

por HELENA TECEDEIRO

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