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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Tradição e cultura dos ciganos divulgadas em peça de teatro

Cintia Végas

Ciganos do Paraná divulgam sua cultura através de uma peça de teatro.

Um povo alegre, que usa roupas coloridas, aprecia a música e a dança, pratica a leitura das mãos e utiliza o ouro como um bem de consumo. Assim são os ciganos, que comemoram o seu dia na última quinta-feira e já somam cerca de seiscentos mil indivíduos em todo Brasil, sendo cerca de 3 mil no Paraná (a maioria em colônias localizadas em Londrina, Foz do Iguaçu e Maringá).

“A maioria dos representantes do povo cigano vive de maneira nômade. Em Curitiba, têm residência fixa cerca de trezentos indivíduos”, diz o presidente da Associação de Preservação da Cultura Cigana, criada no ano de 1995, Claudio Iovanovitchi. “Os ciganos chegaram ao Brasil junto com Pedro Álvares Cabral, expulsos da Espanha e de Portugal por serem considerados hereges. Se misturaram com negros e índios e criaram grandes comunidades no País”.

Claudio comenta que muitos ciganos obtiveram destaque na história e cultura brasileira. Entre eles, o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976), “que era filho de mãe cigana”; a atriz Ana Rosa, que tem diversas novelas e peças de teatro no currículo; e o compositor mineiro Wagner Tiso.

Mesmo assim, o povo ainda é vítima de preconceito e indiferença, tendo pouco o que comemorar. Muitos ciganos sequer têm documentos de identidade, o que lhes gera diversos transtornos em relação à garantia de seus direitos básicos.

“Um dos principais problemas enfrentados pelos ciganos diz respeito à educação”, afirma Claudio. “Como o povo cigano viaja bastante, de um extremo a outro do País, as crianças acabam não tendo como frequentar a escola, sendo excluídas em função do analfabetismo. Há vários anos pedimos ao governo federal que seja criado um modelo de alfabetização à distância para os ciganos. Porém, não somos atendidos, sendo tratados com muito descaso”.

Outra dificuldade do povo é em relação ao acesso à saúde. De acordo com Claudio, por não terem residência fixa, a maioria dos ciganos não têm CEP e acabam não sendo atendida nas unidades de saúde e hospitais públicos.

“Muitas vezes, os ciganos morrem nas filas à espera de atendimento. Em parte, este problema poderia ser resolvido através da criação de um CEP único para os ciganos, o que também deveria ser de iniciativa do governo Federal”.

No dia dedicado à cultura cigana, Claudio comenta que os representantes do povo cigano vão realizaram festejos e comemorações dentro de suas casas. Em Curitiba, eles também lamentam o fato de não terem um parque ou bosque onde possam divulgar suas culturas e tradições, ao contrário do que acontece, por exemplo, com os povos polonês e alemão.

“Gostaríamos de fazer uma grande festa comemorativa ao Dia do Cigano para toda a população curitibana. Infelizmente, ainda não temos um espaço físico na cidade que nos possibilite isto”.

Há um mês, a Associação de Preservação vem realizando, em pátios de escolas públicas da periferia da capital, o espetáculo teatral Além da Lenda, que conta um pouco da história dos ciganos. A peça foi produzida com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

“Conhecer as tradições e cultura cigana ajudam a combater o preconceito. Realizamos o espetáculo em escolas da periferia porque geralmente é nas periferias que os ciganos montam suas tendas quando chegam às cidades”, explica.