Bruno Gonçalves
NORTON DE MATOS - OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO SÃO AGUARDADAS COM DESCONFIANÇA
O povo ainda gosta destas feiras
Comerciantes e clientes partilham a preocupação. Ninguém quer perder a feira do Bairro Norton de Matos, mas admitem até sair para um espaço próximo, temporariamente, desde que seja para fazer melhorias.
Ainda há feiras assim. Bem no centro da cidade. Continuam a resistir as dos 7 e dos 23 que, como o próprio nome indica, acontecem apenas uma vez por mês naquelas datas. Mas há uma que ainda resiste, bem à moda de antigamente.
No Norton de Matos – se bem que ali já estaremos no Vale das Flores – todos os sábados se repete o ritual. Bem cedo, começam a chegar os vendedores ambulantes, para marcar o sítio. É assim há dezenas de anos. Alguns, fruto da antiguidade, sempre ocuparam o mesmo espaço, com tendas e bancas que se vão acumulando, um pouco sem regra.
Marlon Barbosa vem da Figueira da Foz. Com vinte e poucos anos, desde que nasceu, não conhece sábados diferentes. “Faço esta feira desde que nasci. Todos os sábados aqui vimos”, conta à reportagem do DIÁRIO AS BEIRAS. Como “50 por cento dos feirantes”, vem da Figueira da Foz para fazer a venda. “ Já foi mais rentável, mas continua a ser das melhores”, afirma.
Ricardo Prudência, também vem da Figueira da Foz. Vem cedo e monta a sua tenda no mesmo sítio, “há mais de 15 anos”. Um sítio que vai desaparecer, mesmo junto às escadas que descem da Rua Carlos Seixas. Ali vão nascer três prédios e, naturalmente, a feira vai perder terreno.
“Eles depois têm que resolver o nosso problema, porque não podemos ficar de mãos a abanar. Isto é a nossa vida e o ganha-pão”, afirma. Queixa-se do Estado e da câmara, que esquece os vendedores ambulantes, mas não se preocupa com as obras, desde que venham aí melhores condições.
“O Estado não nos dá valor nenhum, mas têm de ver que também somos contribuintes. Este é o mercadito onde nos safamos melhor”, diz. “Eles [a câmara] não querem saber se podemos ou não trabalhar. No Inverno há dias que a chuva nos estraga tudo… mas desde que arranjem o espaço, façam lá as construções que quiserem, desde que nos deixem um espaço para nos governarmos, encantado da vida”, afirma.
“Vem cá muita gente”
Maria Pereira Dias, de Ceira, é outro rosto habitual da feira. Já vendeu no Mercado D. Pedro V, mas gosta mais desta feira. “Fica-me mais perto”, explica. Quanto às obras, são importantes… “para os mais novos”. Afinal, lembra, “vem cá muita gente ao sábado”.
Maria Trigueiro é de Coimbra. Vive no bairro. Sobre as obras, desde que sejam “para continuarmos e melhorar a feira, então tudo bem”. Mas deixa um aviso: “Vão cortar muito espaço e as pessoas de Coimbra já se habituaram a comprar aqui. Não é com quatrocentos e tal ou 500 euros que se pode ir comprar às lojas…”.
O problema é quando se fala nas opções para o período das obras. “Queria perguntar ao senhor presidente onde vão pôr os ciganos enquanto aqui estiverem obras”, diz Maria Trigueiro. Porque, é ali o seu “ganha-pão” e “com a falta de emprego que há e o país em crise, querem tirar os ciganos das feiras. Depois dizem que há muitos assaltos… Para além disso, estas feiras não são só o sustento do povo cigano. Há muita gente que daqui tira o sustento para as suas famílias”.
Catarina Rodrigues é proprietária da pastelaria Arco Íris, junto ao local da feira. “Deviam manter a feira, mas fazer dali um sítio como deve ser. Marcar um espaço para cada um, nem que pagassem aluguer, porque noutros sítios também pagam…”, disse.
Fonte : DIÁRIO beiras