BRUNO KALON GONÇALVES, MEDIADOR INTERCULTURAL, ESCREVE LIVRO PARA CRIANÇAS
O mundo do ciganinho Chico
Chico. O ciganinho que não sabia a gesta do povo Rom. “Conhece-me antes de me odiares”, diz o título. A história da criança e da sua curiosidade é contada a todas as outras crianças por Bruno Gonçalves, um cigano, como Chico, que nunca escondeu a sua imensa sede de aprender. E, agora, de ajudar a aprender.
Bruno tem 34 anos. Nasceu em Coimbra, filho de vendedores ambulantes. O pai, analfabeto, sempre o empurrou para a escola. Não foi além do 8.º ano, porém. Culpa da submersão na “geração solitária”, admite. Hoje, arrependido, já fez o 9.º e prepara-se para concorrer à universidade, via ad-hoc.
Há uma década que Bruno é uma espécie de vanguarda da afirmação Rom, em Coimbra. A partir do defunto Futebol Clube Ciganos de Coimbra, fundou e foi o primeiro presidente da Associação Cigana. Na altura, era mediador na escola primária do Ingote – onde 90 por cento dos alunos eram ciganos, a maior percentagem em toda a Península Ibérica.
Desde então, escreve, regularmente. Palavras que “anseiam por mostrar aos quatro ventos que ser cigano é sonhar. Sonhar em ter um mundo melhor onde a diferença é uma pedra preciosa que se lapida todos os dias”…
Bruno é um tipo afável, culto e acima de tudo prestável. Depois da Associação Cigana, voltou à mediação intercultural, no Porto e na Pampilhosa. Hoje, é um dos 16 mediadores municipais, em todo o país.
Há uma década, Bruno escrevia à mão, em cadernos que nem sempre guardou. Depois, familiarizou-se com os computadores e, hoje, tecla as suas histórias enquanto se desdobra em múltiplas intervenções, em todas as redes sociais – no Facebook, dinamiza a página “Portugueses ciganos e seus amigos” e não se perde do seu espaço pessoal, em Bruno Kalon Gonçalves.
A história do ciganinho Chico há-de chegar às livrarias. Oxalá tenha apoios. Para já, espera que ACIDI (Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural) e outras instituições se cheguem à frente.
Bruno não aspira mais do que a uma edição de autor. Modesta, mas que realce as “lindíssimas” ilustrações do seu amigo figueirense Tiago Moleano Gomes. E, sobretudo, que leve a toda a parte a história do povo cigano e que valorize a idiossincrasia da sua cultura. Porque, como diz o ancião da história, é na escola, com todas as diferenças, que enriquecemos esta sociedade.
Fonte: DIÁRIO beiras