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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Rumes - Ciganos

Fonte: BBC BRASIL

Texto: Carolina Glycerio

Enviada especial a Presov

Ciganos eslovacos vivem em 'favelas geladas'

Crianças com roupas puídas vagam em meio a centenas de barracos de madeira, que se amontoam à beira do rio. O cenário de desamparo lembra algumas das mais miseráveis favelas brasileiras, mas a temperatura está abaixo de zero, e neva em plena primavera.

Cerca de 2 mil pessoas vivem no assentamento de Jarovnce, no leste da Eslováquia, e fazem parte da comunidade de 400 mil ciganos que vivem no país.

Os ciganos são a parcela mais pobre da sociedade eslovaca – uma das mais pobres que estão entrando na nova União Européia a partir do dia 1 de maio.

Faltam estatísticas oficiais que expressem a situação dos ciganos porque a lei eslovaca impede a discriminação de dados por origem étnica, mas a pobreza vivida em assentamentos como o de Jarovnce é desconhecida pelos outros cinco milhões de eslovacos.

Famílias extensas

A maioria dos ciganos mora na região mais pobre do país, onde o poder de consumo é um terço da média da capital eslovaca, Bratislava.

Boa parte deles depende de benefícios sociais, divididos entre os vários membros da família, tradicionalmente extensa na cultura romani.

"Nós estamos vivendo na pobreza. Não temos emprego, não temos renda, às vezes não temos dinheiro para pagar o aluguel", diz um cigano que preferiu não se identificar.

Autoridades e ativistas concordam que não há como melhorar a situação dos cigano sem diminuir o desemprego entre a comunidade, que é especialmente afetada num país no qual da 17% da população ativa está sem trabalho.

Discriminação

A maioria carece de nível educacional ou qualificação profissional, mas ativistas dizem que o desemprego entre os ciganos não seria tão alto se não houvesse discriminação.

"É muito difícil conseguir um emprego não só para cigano, como também para os que não são ciganos. Se o empregador tiver que escolher um não-cigano qualificado e um cigano não qualificado, ele vai escolher o não-cigano. Se houver a mesma escolha entre desqualificados, ele também escolheria o eslovaco", afirma Erika Godlova, consultora de projetos culturais da cidade de Presov.

Ela própria uma cigana, Erika é uma exceção na comunidade. Com formação acadêmica e fluente em quatro línguas, ela é a única cigana da estrutura de 100 pessoas em que trabalha.

Apesar disso, ela conta que demorou meses até conseguir fazer o trabalho para o qual foi contratada, porque lhe mandavam fazer tarefas como servir café e fazer compras. "As pessoas tinham medo de que eu fosse estragar tudo."

"Eles (eslovacos) não acham que os ciganos são capazes de trabalhar, não acham que os ciganos querem trabalhar. A opinião geral na sociedade é que ciganos só querem ficar em casa, viver de benefícios sociais, ter muitas crianças para que o Estado lhes pague pensão."

De fato, não é difícil encontrar eslovacos que declarem abertamente o seu preconceito contra a minoria.

Tensão

"Eles não mudam de vida porque não querem e esta sociedade não é feita para quem não quer mudar", diz Kristina Rebrova, uma estudante de 20 anos, de Bratislava.

A tensão entre eslovacos e ciganos chegou ao auge no início deste ano, logo após um corte nos benefícios sociais, que atingiu os ciganos em cheio. A decisão causou revolta entre a comunidade e grupo iniciou uma onda de saques a lojas e supermercados – reprimidos com tropas do Exército.

"Eles estão roubando os nossos supermercados porque o governo cortou os benefícios deles, mas eu não acho que a solução seja dar esse dinheiro para eles. Não é justo que eles não façam nada e recebam o dinheiro que os meus pais trabalharam para ganhar", diz Kristina.

Michal Sebesta, assistente da Plenipotenciária para os ciganos no governo eslovaco, diz que o sistema anterior de benefícios, criado durante a transição do comunismo para o capitalismo, era "insustentável" a longo prazo. O sistema beneficiava e, mesmo depois de reformado, ainda beneficia tanto ciganos quanto eslovacos.

Segundo Sebesta, que é eslovaco, as diferenças entre a maioria da população e os ciganos são uma combinação do que aconteceu no comunismo com o período econômico difícil pelo qual o país passou na transição para o capitalismo.

"Durante o comunismo, a comunidade cigana estava perdendo as suas origens, mas, por outro lado, o Estado estava lhe dando determinados padrões sociais. Durante a transição, eles podiam reivindicar as suas origens e passaram a contribuir para a sociedade, mas, por outro lado, perderam os seus trabalhos e as diferenças entre a minoria cigana e a maioria eslovaca foram aumentando."

O alto desemprego entre os ciganos, os primeiros a perderem os seus trabalhos na transição, e o fato decorrente de receberem benefícios sociais agravaram o preconceito, que já existia, embora mais disfarçado, no comunismo. Por outro lado, diz Sebesta, a exclusão afetou a cultura de trabalho dos ciganos

"Crianças de 12 anos nunca viram os seus pais trabalhar", diz.

Ele diz que os assentamentos como de Jarovnce "são o problema mais difícil" na estratégia de integração da comunidade.

"As pessoas têm problema de moradia, de emprego e, além disso, problemas com a população eslovaca. E todos esses problemas estão interligados. Se há dez pessoas vivendo em uma casa, a criança não consegue fazer a lição de casa, tem problemas na escola e, por consequência, enfrenta dificuldades para obter um emprego no futuro. É por isso que nós temos que enfrentar esses problemas ao mesmo tempo."

O problema é que nem governo nem ativistas parecem saber muito bem como.



Rumes - Ciganos

Outro dia assisti um documentário na TV Futura, que falava um pouco sobre o povo denominado rumes.

Saíram de Bangladesh antes da Segunda Guerra e se instalaram na região onde hoje é a Eslováquia.

No documentário mostra que eles são um povo que não recebem praticamente nenhum auxílio do governo eslovaco. Recebem mensalmente uma quantia irrisória (visto que em cada casa há cerca de 14 crianças), e o "vilarejos" onde vivem são completamente esquecidos pelo governo e pela sociedade. Não há escolas, hospitais, policiamento, absolutamente nada. Estima-se que haja 500 favelas rumes em toda Eslováquia. Pelo retrato exibido, eles vivem na extrema pobreza. Não há alimentos e nem empregos. Comem carne de cavalos pois não há outro alimento.

A gravação acompanhou uma jovem, com um curso técnico em vendas, na busca de um emprego. E é impressionante, as pessoas nem se importam com a filmagem. Falam que precisam de alguém mais velha, que a vaga já foi preenchida, ou falam que não a querem, que nada adianta um curso técnico... é horrível o preconceito...

Que Dios (Deus) abençoe os povos distantes, que são esquecidos pelos homens.