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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Slava de Sara Kali - Maio de 2010 / Homenagem




(Slava 24 e 25 de Maio de 2010)

Todos os anos, nos dias 24 e 25 de maio, milhares de Ciganos reúnem-se na cidadezinha de Sainte Maries de Ia Mer, na região da Camargue, sul da França, com o objetivo de cultuar Santa Sara, a santa católica da sua devoção. Toda a história das origens de Sainte Maries de Ia Mer está, na verdade, envolta nas brumas misteriosas do mito. Conta-se que, lá pelo ano de 48 depois de Cristo, uma barca aportou às margens do Mediterrâneo no lugar onde hoje se situa Sainte Maries de Ia Mer. Expulsos da Palestina, ou incumbidos pelo Cristo de propagar no mundo a fé cristã, estavam reunidos nessa barca vários personagens bíblicos: Maria Jacobina, a irmã da Virgem Maria, Maria Salomé, a mãe dos apóstolos Tiago e João, Maria Madalena, Marta, Lázaro, Maximino... e a serva das santas, uma negra de nome Sara. É Sara que os Ciganos vêm venerar todos os anos, por ocasião da grande peregrinação de 24 e 25 de maio. Mas Sara estava mesmo naquele barco, ou já habitava a Camargue no momento da chegada das santas, tendo decidido, por amor e piedade, ajudá-las nos caminhos difíceis do exílio? As lendas se misturam e as versões mais diversas são contadas. Alguns dizem que ela era uma antiga rainha das terras da Camargue; ou uma egípcia ou negra africana transladada para a outra margem do Mediterrâneo; ou uma sacerdotisa do antigo culto ao deus Mitra, de origem oriental; outros ainda pensam que Sara personifica uma antiga divindade fe¬minina telúrica dos celtas, uma espécie de Grande Mãe ligada à terra. Sara, na verdade, encarna a síntese de um mistério feminino cultivado ao longo de muitos séculos na região de Camargue, onde, como comprova a história, foram estabelecidas sucessivamente várias colônias de civilizações antigas a egípcia, a cretense, a fenícia e a grega. Vindos do mar em suas embarcações, grupos dessas culturas subiam o rio Ródano e penetravam fundo nas terras que são hoje a região da Provença, sul da França. Toda uma linhagem de poetas e menestreis provençais cantou a história de Sara, que teria sido, segundo eles, uma das primeiras convertidas ao cristianismo após a chegada dos exilados da Terra Santa. Por que os Ciganos a escolheram como santa padroeira? Para se responder a pergunta é preciso voltar no tempo, até as origens do Povo Cigano e sua chegada ao mundo ocidental. Sabe-se hoje que os Ciganos são originários do norte da índia. Seus dialetos todos deitam, sem sombra de dúvida, suas raízes no sânscrito arcaico. Localiza-se o início de suas migrações há cerca de mil anos, entre as margens do rio Indo e os confins do Afeganistão. Mas a//pré-história"do Povo Cigano é ainda obscura, e não se sabe quais as causas que o levaram a abandonar sua pátria para penetrar cada vez mais na direção do oeste. Os Ciganos aparecem a partir de 1322 na Grécia; na Valáquia em 1370. Em 1419 chegam à França. Há registros da sua presença na cidade provençal de Aries em abril de 1438. Isso os situa a apenas dez léguas de Sainte Maries de Ia Mer, dez anos antes da descoberta, neste último lugar, das alegadas relíquias das santas Maria Jacobina e Maria Salomé e também das relíquias de Sara. Os alegados despo-jos das duas primeiras foram guardados numa grande arca, colocada hoje num nicho na parte superior da Igreja de Nossa Senhora do Mar, arca esta exposta aos fiéis ao lado do altar principal durante a festa de 24 e 25 de maio. Os despojos de Sara foram sepultados na cripta da Igreja e é ali que se pode visitar, ao longo de todo o ano, a imagem negra que representa Santa Sara. Embora orgulhosos da sua misteriosa tradição religiosa original, fazem questão de preservar bem longe dos olhos dos não gadjos" os Ciganos costumavam oficialmente converter-se à religião dominante Í35 países onde se estabeleciam. Tal prática os ajudava a se defender melhor contra os preconceitos de que, em geral, eram vítimas. Foi ;i=im que na Europa e particularmente na França, eles se declararam zéis católicos. A partir disso, estabelecer, pelas vias do sincretismo, una relação devocional com Santa Sara não foi difícil. Sara, como eles, tem origens obscuras e a mesma pele morena trigueira dos povos da India. Como se isso não bastasse, é uma santa atípica, já que relacionada a um grande número de mitos pagãos. Considerada pela Igreja católica uma santa de culto local, que jamais passou processos regulares e completos de canonização, a figura de Santa Sara liga-se também a uma outra tradição cristã medieval que foi de grande importância na Europa: o culto às assim chamadas "virgens negras". Centenas dessas santidades femininas, representadas por estátuas de cor negra, eram adoradas na Idade Média por fiéis católicos que transformaram as igrejas onde elas se encontravam em verdadeiros santuários de peregrinação. Na França e na Espanha, principalmente, várias dessas imagens chegaram até nós e podem hoje ser admiradas, como é o caso de Nossa Senhora de Montserrat, em Barcelona; Nossa Senhora de Liesse; Notre Dame dês Mures, em Cornas; Notre Dame de Marseille, em Limoux; Notre Dame de Ia Negrette, em Espalion; Notre Dame de Mauriac; Notre Dame de Ia Délivrance, em Douves; Notre Dame de Puy; etc. Na realidade, todas essas virgens negras substituíram, num con¬texto cristão, as antigas divindades femininas pagas pertencentes às religiões pré-cristãs ligadas à Grande Mãe, a terra. Também os Ciganos traziam, das suas longínquas terras de origem, divindades femininas telúricas, representadas quase sempre por imagens negras. Tais arquétipos foram rapidamente associados à figura escura de Santa Sara, à maneira do que aconteceu no Brasil entre as divindades do panteão africano e os santos católicos. Por isso, até hoje muitos Ciganos se referem à santa com os apelativos de Sara, a Negra, e Sara, a Kali. Kali, como se sabe, é uma das principais deusas do panteão da índia, identificada aos aspectos criativo e destrutivo do princípio feminino. O momento culminante do culto a Santa Sara acontece na madruga¬da de 24 de maio e durante todo esse dia. A cripta subterrânea da igreja, localizada exatamente sob o altar principal e onde fica a estátua de Sara vestida de brocados e coberta de jóias, transforma-se numa literal chama ardente. A quantidade de velas acesas é tão grande que a tem¬peratura ambiente mais parece a de uma sauna escaldante. Somente por poucos minutos consegue-se permanecer ali dentro. Mesmo assim, a cripta permanece repleta de fiéis Ciganos por toda a madrugada. É impressionante, naquela luz espectral das velas, testemunhar as manifestações de fé desse Povo errante. Muitos, aos prantos, abraçam a estátua como se quisessem ser acolhidos no seio da Grande Mãe. Uns oram, outros invocam, outros parecem estabelecer um diálogo com a santa, falando nas suas línguas incompreensíveis para os poucos não-ciganos que se aventuram a penetrar no local naquela noite. O clima geral é quase o de um transe coletivo. Conta-se que, no passado, aconteciam ali dentro transes completos, quando alguns, de repente, "incorporavam" antigas divindades da religião Cigana diante das quais os demais se prostravam em atitude de respeito e veneração. As autoridades católicas, particularmente complacentes nessa região e em seu afã de catequizar os Ciganos, pouco ou nada interferiam nessas manifestações, já que tudo acontecia em nome de Santa Sara. Hoje, acompanhando curiosamente o crescente processo de sedentarização do povo Cigano, transes desse tipo são muito raros. Mas a intensa vibração de magia ainda permanece e qualquer pessoa razoavelmente sensível pode percebê-la. Às 15 horas do dia 24, uma procissão dos Ciganos sai da igreja para levar a estátua de Santa Sara ao mar. Um verdadeiro rio de gente Ci¬gana move-se pelas ruas de Sainte Maries de Ia Mer. Carregam .istosos estandartes e adereços, como miniaturas de antigas carroças Ciganas. A imagem da santa é protegida por um grande número de râvaleiros não Cíganos, homens brancos da Camargue, vestidos de rreto e carregando na mão direita uma espécie de longa lança. São os membros da Ordem de São Jorge, uma confraria cristã fundada em 1512, tradicionalmente encarregados da manutenção da ordem pública durante eventos como esse. Padres católicos, vestindo hábitos claros, oram e cantam hinos íitúrgicos com o uso de megafone, esforçando-se para incrementar o aspecto cristão da procissão. Mas o que sobressai, é mesmo a música dos Ciganos. Da procissão participam os vários grupos musicais que, auxiliados pela cantoria e pelas palmas ÍQG fiéis, imprimem à festa religiosa um incrível ar de imenso tablado andante de flamengo andaluz. Pouco a pouco a procissão chega ao mar Carregado por oito Ciganos robustos, o andor com a santa balança no ar quando os portadores pisam na areia da praia. Todos avançam mar adentro até a água chegar à cintura. E aí, algo mágico acontece; um silêncio vibrante parte daqueles que estão mais próximos da santa e vai, como uma onda, tomando conta da multidão que se imobiliza. O silêncio dura menos de um minuto, mas tem a força de uma eternidade. Enquanto dura, o tempo pára e Santa Sara, saída das profundezas da sua cripta, parece uma criatura viva a contemplar o mar até onde ele alcança o horizonte. O burburinho reaparece e a procissão faz o caminho de volta. No dia seguinte pela manhã, ocorre outra procissão, que também chega até o mar. Agora é a vez das imagens das santas brancas, Maria Jacobina e Maria Salomé, visitarem as águas do Mediterrâneo. As águas que há quase dois mil anos, conta a lenda, trouxeram-nas da distante Palestina até as terras da Camargue. Muitos Ciganos integram também essa procissão. Mas esta, embora possa competir em beleza com a anterior, não tem mais aquele fascínio quase pagão. Trata-se agora de uma festa devocional inteiramente cristã. Na tarde desse dia 25 de maio, os Ciganos pagam com alegria um tributo à Igreja católica pela liberdade, proteção e acolhimento que esta lhes proporciona. Atendendo a um apelo das autorida¬des eclesiásticas, líderes Ciganos e comitês representativos dos diversos grupos de peregrinos reúnem-se no interior da Igreja de Nossa Senhora do Mar. Diante do altarmor, fazem discursos emocionados, cantam ave-marías e outras músicas litúrgicas traduzidas para línguas Ciganas, prestam depoimentos onde afirmam sua fé e descrevem sinceramente os benefícios trazidos por sua aproximação ao catolicismo. No dia seguinte, as caravanas vão embora. Levam com elas o véu de mistério que durante uma semana cobriu Sainte Maries de Ia Mer. A pequena cidade volta a ser um balneário marítimo pronto para acolher, a partir de agora, as hordas de milhares de turistas, em sua maioria alemães que, não se sabe exatamente por quê, elegeram-na como um dos seus lugares preferidos para as férias de verão. Que Santa Sara proteja os seus Ciganos, fazendo com que, mesmo confinados no interior dos prédios de cimento armado da moderna Europa e das Américas, eles pelo menos nunca percam o seu maior bem: a liberdade que certamente mora em cada uma das suas almas.

Texto extraido do livro Oráculo utilizados pelo povo Ciganos




SLIDE - HOMENAGEM / STA SARA KALI - CAMARGUE







Aqui no Brasil, Santa Sara divide a preferência dos ciganos brasileiros com Nossa Senhora Aparecida e São Jorge Guerreiro. Os ciganos brasileiros adoram Nossa Senhora de Aparecida, talvez por causa de sua cor, e muitos a equiparam à Santa Sara Kali. Se não têm a imagem dela, por ser difícil encontrá-la, por certo possui em sua Thiera (barraca) ou casa uma imagem de Nossa Senhora de Aparecida. Às vezes têm as duas.


A Comunidade Sara Kali Padroeira dos Roma deseja a todos os Amigos, Boa Comemoração e que Sara Kali continue a Nos Proteger Sempre.

THIE AVÊS THIAILÔ LOM, MANRÔ TAI SUNKAI
(Que você seja abençoado com o sal, com o pão e com ouro).

Minhas flores pra Ti




sexta-feira, 14 de maio de 2010

Roma Holocausto Sinti e roma (ciganos), em Auschwitz


Roma Holocausto Sinti e roma (ciganos), em Auschwitz


Quando se ouve falar em campos de concentração nazistas, pensa-se logo em judeus sendo martirizados, em Auschwiss,Dachau e outros campos. Isso porque os arautos do Sionismo, além de cuidar para que aquela barbárie não seja esquecida, apresentam-na de um tal modo que parece ter sido apenas o "povo eleito" o alvo da sanha hitlerista.

Mas houve outras vítimas. E, dentre elas, os ciganos.

Desde 1933, a imprensa nazista começou a acentuar que os ciganos e os judeus eram raças estrangeiras, inferiores, e que teriam contaminado a Europa como um corpo estranho. Valendo-se de uma desconfiança histórica em relação aos ciganos, foi possivel justificar um conjunto de medidas duras contra esse povo, inclusive uma política de extermínio.

O primeiro grito de alarme oficial para o mundo cigano se fez ouvir a 17 de outubro de 1939, quando Heydrich (1), proibiu-os de abandonar seus acampamentos e iniciou sua transferência para a Polônia. A maioria dos transferidos acabou no campo de Dachau, enquadrada como "elementos associais".





Em novembro de 1941 ecoou na Europa o slogan: "Depois dos judeus, os ciganos!" e, em 24 de dezembro de 1941, uma ordem reservada a todas as SS, afirmava que os ciganos eram duplamente perigosos, tanto pelas doenças de que são portadores como pela sua deficiência mental. A ordem concluia que os ciganos deveriam ser tratados com o mesmo rigor aplicado aos judeus.

Em um boletim policial, datado de 25 de agosto de 1942, lê-se, entre outras coisas relativas aos ciganos, que " é pois indispensável exterminar esse bando integralmente, sem hesitar."





Mas desde 1941, quando se criaram os Einsatzgruppen (pelotões de execução), as deportações e extermínio de ciganos já estavam sendo praticadas. Em outubro de 1941, chegaram a Lodz (Polônia), 5 mil ciganos, entre os quais mais de 2.600 crianças. Foram todos internados por grupos de famílias. Os testemunhos nos dizem que as janelas das barracas estavam quebradas, enquanto o inverno era extremamente duro. No campo não havia medidas higiênicas, nem assistência médica. Duas semanas depois de sua chegada, irrompeu uma epidemia de tifo, que matou mais de 6oo adultos e crianças. Entre março e abril de 1942, os sobreviventes foram deportados para Chelmo, e ali assassinados nas câmaras de gás.





Desde então, até 1945, multiplicam-se os testemunhos: massacres coletivos, mortes individuais, tortura de todo o tipo, experimentos químicos e médicos dos mais cruéis. E todas essas crueldades ocorriam nos diversos campos de concentração:Auschwitz, Birkenau, Mauthausen, Rabensbruch, Buchenwald, Chelmo, Lodz, Dachau, Lackenbach e Sachsenhausen.

Para Auschwitz foram enviados ciganos de toda a parte, até soldados alemães em licença da frente militar, alguns deles condecorados por bravura em combate, cujo único delito era terem "sangue cigano" nas veias.

Particularmente impressionantes são os depoimento sobre a transferência de crianças do campo de Buchenwald para o deAuschwitz. Eram crianças ciganas da Boêmia, dos Cárpatos, da Croácia, do Nordeste da França, da Polônia meridional e da Rutênia.

Bárbara Richter, menina cigana, assim depõe:
"Até os prisioneiros mais afeitos a esses horrores sentiram enorme tristeza quando perceberam que os SS iam tirar um por um os pequenos judeus e ciganos, reunindo-os em um só rebanho. Os meninos choravam e gritavam, tentavam freneticamente voltar para os braços dos pais ou dos protetores que tinham encontrado entre os prisioneiros, mas envolvidos por um círculo de fuzis e metralhadoras, foram levados para fora do campo e enviado para Auschwitz, onde morreriam nas câmaras de gás."

Devido aos maus tratos e péssimas condições sanitárias, "a pele das crianças se enchia de feridas infecciosas. Elas sofriam de estomatite cancrenosa... parecia lepra...seus corpinhos iam se desfazendo, bocas espantosas se abriam nas faces, e lá dentro se podia observar a lenta putrefação da carne viva."

Só em Auschwitz, os ciganos regularmente matriculados foram 20.933, incluindo 360 crianças nascidas no campo de concentração, e que viveram o bastante para receberem número de matrícula. A estes se devem somar mais de 1.700 ciganos mandados para a câmara de gás, assim que chegaram, em março de 1943, e que nem tinham recebido ainda o número de matrícula. Em um único dia (29 de maio de 1943), 102 ciganos foram arrastados para fora de suas instalações e levados para a câmara de gás.





Esses testemunhos narram também a matança de quatro mil ciganos, no começo de agosto de 1944:
"A sirena anunciou um princípio de um rigoroso toque de recolher. Os caminhões chegaram por volta das 20 h. Os ciganos tinham previsto o que estava para acontecer, mas os alemães fizeram de tudo para confundir as idéias: ao saírem dos acampamentos, os ciganos recebiam uma ração de pão e salame, e muitos assim acreditaram que se trataria simplesmente de transferência para outro campo. Então, um pelotão das SS, armado e auxiliados por cães, irrompeu no acampamento e lançou-se contra mulheres, crianças e anciãos. Um garoto tcheco, suplicou aos gritos: ´Eu lhe peço, senhor SS, me deixe viver!`. A única resposta que teve foram os golpes de cassetete. Por fim, foram todos jogados, em montes, no caminhão e levados ao crematório. " (Kraus e Kulka).





"Houve cenas de cortar o coração: mulheres e crianças se ajoelharam diante de Mengele (2) e Borger (3), gritando: ´Piedade! Tenha piedade de nós!´ Em vão. Foram abatidas a coronhadas, pisadas, arrastadas ao caminhão, levadas à força. Foi uma noite horrível, alucinante. Na carroceria foram jogados os que também já tinham morrido sob os golpes da clava . Os caminhões chegaram ao bloco dos órgãos por volta de 22h30min e ao isolamento por volta de 23hs. Os SS e quatro prisioneiros levaram para fora os enfermos, mas também 25 mulheres em perfeita saúde, isoladas com os respectivos filhos" (Aldesberger, p.112-13).

"Por volta de 23hs chegaram outros caminhões diante do hospital, num só caminhão colocaram cerca de 50 a 60 presos e foi assim que chegaram até a câmara de gás. Ouvi os gritos até altas horas da madrugada, e compreendi que alguns tentavam opor resistência. Os ciganos protestavam, gritando e lutando até a madrugada... Tentavam vender a vida a um alto preço". (Dromonski, no processo por Auscwitz).





"Depois, Gober e outros percorreram os quartos um por um tirando dali as crianças que tinham se escondido. Os menores foram arrastados até os pés de Boger, que os agarrava pela perna e os jogava contra a parede...Vi esse gesto se repetindo-se umas cinco, seis e sete vezes" (Langhein).

As estimativas mais próximas falam em meio milhão de ciganos mortos, mas sabe-se que esses dados são inferiores às cifras reais, pois muitos foram mortos antes mesmo de serem matriculados.





Em seu livro "Alemanha e Genocídio", o historiador Joseph Billig distingue três tipos de genocídio: por eliminação da capacidade de procriar, por deportação e por extermínio. No hospital de Dusseldorf-Lierenfeld foram esterilizadas ciganas casadas com não-ciganos, algumas das quais morreram por estarem grávidas. Em Ravensbruck os médicos da SS esterilizaram 120 meninas ciganas. Um exemplo do segundo tipo de genocídio foi a deportação de 5 mil ciganos da Alemanha para o gueto de Lodz, na Polônia. As condições de vida eram ali tão desumanas que ninguém sobreviveu.




Povo antigo, porém prolífico e cheio de vitalidade, os ciganos tentaram resistir à morte, mas a crueldade e o poderio de seus inimigos prevaleceram à sua coragem. O amor à música serviu-lhes por vezes de consolo no martírio. Famintos e cobertos de piolhos, eles se juntavam diante dos hediondos barracões de Auschwitz para tocar música, encorajando as crianças a dançar.

Há testemunhas da coragem dos ciganos que militaram na Resistência polonesa, na região de Nieswiez. Segundo elas, os combatentes ciganos se lançavam sobre o inimigo fortemente armado empunhando apenas uma faca.

Como diz Myriam Novitch, diretora do Museu dos Combatentes dos Guetos, "são decorridos muitos anos desde o genocídio dos ciganos. Já é tempo de denunciar esse crime abominável."

Notas:
(1) - Reinhard Tristan Eugen Heydrich, Sicherheitsdienst da SD - Serviço de Segurança das SS, Protektor da Boêmia e Morávia (ex-Checoslováquia), onde recebeu o cognome de "Carniceiro de Praga".
(2) - Josef Mengele, médico chefe da principal enfermaria do campo de Birkenau, que era parte do complexo Auschwitz-Birkenau, ficou conhecido como "Todesengel" (o Anjo da Morte).
(3) - Wilhelm Boger, SS- Oberscharfuhrer.

Fontes:
* Myriam Novitch - Os ciganos e o terror nazista
* Ota Kraus e Erich Kulka - The death factory: documents on Auschwitz - 1946.
* Lucie Adelsberger - Auschwitz: A Doctor'S Story - Boston, Northeastern University Press. 2006. ISBN: 9781555536596.









Auschwitz nunca mais


"Perdoar Sim, Esquecer Jamais".




"Gelem gelem" "We Will Go On" Gypsy Hymn


Nota: 
O Gandhi School Choir em Pecs, Hungria, cantando o Hino cigano Gelem gelem

A Escola de Gandhi é uma escola secundária residencial para Roma
(cigana) alunos, na Hungria.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quinteto redescobre inspiração cigana - MÚSICA

Fonte: Gazeta Do Povo - Caderno G
Jonathan Campos/Gazeta do Povo



Quinteto redescobre inspiração cigana

Com proposta ousada que resgata jazz da década de 1940, jovem grupo curitibano esbanja talento e originalidade
Pessoas enchem um bar curitibano em uma quinta-feira fria e chuvosa. Empolgadas, fazem da mesa percussão e suspendem o papo para prestar mais atenção ao que ali acontece. Outras tantas lotam o Sesc da Esquina em um sábado à noite e, após o show, fazem fila para perguntar mais sobre o que acabaram de ouvir. Essas e outras proezas já estão no pequeno, mas impressionante currículo do Jazz Cigano Quinteto. Com proposta inovadora e muito bom gosto, o grupo tem causado burburinho em Curitiba, por mais que a divulgação seja no tradicional boca a boca. De quebra, provam que há público e espaço na cidade para o que é original e feito com esmero.
A galinha dos ovos de ouro de Eduardo Mercuri (violão, 23 anos), Vinicius Araújo (violão, 21), John Théo (violino, 22), Fred Pedrosa (contrabaixo, 23) e Mateus Azevedo (percussão, 28) atende pelo nome de Jean-Baptiste Reinhardt (1910-1953). E aí uma explicação se faz necessária.
Por mais que fosse belga, o músico mudou o curso do jazz, o gênero do Tio Sam. “Django”, seguindo a tradição cigana, fugiu com a primeira namorada. O fato que mudaria sua vida e influenciaria sua música aconteceu em 1928. O casal morava em uma carroça, que pegou fogo em uma madrugada daquele ano. O músico – violinista e violonista – perdeu parte dos dedos anular e mínimo da mão esquerda. Com a falta deles, Django desenvolveu uma técnica própria para tocar. Ela influenciou todo o gênero tipicamente norte-americano, mesmo aquele feito em décadas seguintes, por exemplo, pelo sax de Coleman Hawkins e pela guitarra de Charlie Christian. Até chegar aos ouvidos dos curitibanos.
“A levada que a música tem e o suingue próprio é o que mais marca. Quem ouve tem vontade de se mexer”, aponta Théo, estudante de Engenharia da Computação que retornou à música devido ao projeto. De fato.
A jovem turma se encontrou nos corredores da FAP – Faculdade de Artes do Paraná –, onde Eduardo se formou e Pedrosa e Araújo estudam. Mercuri se deixou seduzir pela sonoridade do violão de Django quando viu no YouTube outro guitarrista, o sueco Andreas Öberg, interpretando o cigano. “Essa música carrega muita emoção. Aquele povo sofreu muito, mas tinha na música uma alegria insuperável”, diz o violonista.
O quinteto original de Django era composto por três violões, um baixo e um violino. O projeto – segundo os músicos, um dos quatro existentes no Brasil nos mesmos moldes – começou como um quarteto, e os primeiros shows foram na própria faculdade. “O pessoal já batia palmas junto, já cantarolava”, lembra Azevedo.
O primeiro show fora da academia aconteceu em novembro do ano passado. Em março deste ano, passaram a se apresentar todas as quintas-feiras no Realejo – bar e restaurante que os adotou. “O público está crescendo e percebemos uma fidelização”, conta Mercuri, apesar de lembrar que o grupo, hoje, não conseguiria se sustentar somente com a música que faz.
Adaptações e repertório
Pela internet, o quinteto comprou dois violões de fabricação chinesa. Buscando a sonoridade cigana, os instrumentos têm um timbre único e um som mais vibrante, alto. O cuidado técnico com a execução é também perseguido na interpretação, o que faz com que a experiência de ouvir o grupo seja realmente impressionante, apesar da pouca idade dos músicos.
“A música também tem a ver com o estado de espírito. Se alguém de nós não estiver 100%, fica ruim”, conta Mercuri. O repertório abrange as músicas mais conhecidas de Django, como “Minor Swing” – esta em interpretação inspirada – e “Minor Blues”, além de composições folclóricas adaptadas pelo cigano, como “Red Eyes/ Les Yeux Noirs”. Choros da década de 1940, standards de jazz, composições próprias, de Villa-Lobos e Piazzola, e até a cubana “Quizás, Quizáz, Quizás” têm vez. “Sempre conseguimos conquistar a plateia”, gaba-se o violonista – que também curte um hard rock da década de 1980.
O Jazz Cigano Quinteto pretende gravar seu primeiro disco até o final deste mês. Enquanto isso, continua se apresentando no Realejo. “Até onde durar o estoque”.

DIA DAS MÃES MAIO DE 2010 - HOMENAGEM



Presente a mamãe



Às mães de todo planeta
Ofereço o brilho de um cometa
Para tal beleza comparar
Sem jamais pestanejar
Por Deus abençoada
Por Maria imaculada
De seu ventre surge a vida
Mãe tu és consagrada.
(Marcos G. Aguiar)